14 setembro 2015 | Peter Harris | 0 comentários

Cartão postal da Namíbia: porque a natureza não pode ser avaliada em dinheiro

Se alguém ganhou o direito de comentar sobre a monetização da natureza, esse alguém é Christiaan Bakkes. Como um “ingênuo idealista” crente nas virtudes de permitir que as comunidades locais tenham lucro financeiro proveniente da fauna selvagem, ele passou 20 anos em organizações de conservação da Namíbia ajudando para que isso acontecesse. À medida que a Namíbia estabelecia cada vez mais áreas de conservação com benefício para a comunidade, por um tempo tanto a fauna selvagem como as comunidades pareciam estar florescendo, tudo com a ajuda das boas chuvas que duraram por um ciclo de 15 anos. Ele escreve: «A caça grossa proliferou e o número de rinocerontes negros aumentou. Mais elefantes recém-nascidos foram observados em meio a pequenas manadas adaptadas ao deserto. O leão do deserto teve uma reaparição notável. Foi um prazer levar viajantes estrangeiros para um safári através desse Éden africano árido.»

Rhino calf in Etosha (photo by Yathin S Krishnappa)

Mas no coração dessa iniciativa havia uma contradição que está anulando todos os ganhos dos 15 anos anteriores. Agora a vida selvagem está sendo dizimada.

Devemos entender a contradição, porque a Namíbia é um microcosmo de um experimento em progresso em escala global. O experimento é baseado, pela fé, no ditado: Se pagar, fica. A contradição é que “o que paga” não dá nenhuma razão moral para as pessoas que estão sendo pagas saberem quando já têm o bastante. E isso ficou comprovado na Namíbia. Bakkes escreve: «Parece que, mesmo para os conservacionistas, a fauna e a natureza selvagem não são consideradas se não tiverem valor financeiro para as pessoas. Essa doutrina nunca foi mais evidente do que na conservação baseada na comunidade na Namíbia. Tudo gira em torno do dinheiro. O foco eram os benefícios financeiros para a comunidade. O orgulho nacional, a ética, a estética e as práticas ecológicas sólidas compartilhavam um triste segundo lugar. Se é que ocupavam algum lugar. Tudo deve ter uma etiqueta de preço. Nossa busca implacável por benefício financeiro criou uma coisa: GANÂNCIA. Que preparou o palco para o desastre. Dê um lance mais alto e todos os princípios irão por água abaixo.»

O pensamento cristão sobre a conservação insere a vida selvagem e as pessoas no contexto mais amplo da nossa identidade derivada. Sabemos que precisamos de ajuda em relação à ganância inerente a nós. Sabemos o que importa, porque sabemos que há um Deus que nos criou e tudo criou com amor. Bastante é o que funciona para a criação e o que funciona para a sociedade humana, e o que se situa dentro de uma relação de confiança com Deus, com a sua criação e com as nossas comunidades. Em contrapartida, confiar em satisfazer nossos próprios interesses financeiros como forma de garantir o valor da natureza mundial é um caminho curto para a escassez e extinção, e um conselho do desespero.

Precisamos urgentemente recuperar as raízes dos nossos próprios valores, e do valor verdadeiro de tudo que Deus criou.

O valor da criação não pode ser medido pelo dinheiro, mas pela redescoberta da natureza que amamos em nosso mundo.

Leia ‘End of the game for Namibia’ por Christiaan Bakkes.

Tradução: Paulina Itano / Elisa Gusmão

Gostamos que nossos blogs sejam usados por terceiros desde que o autor seja citado e que A Rocha Internacional, arocha.org, seja citada como a fonte original. Agradecemos que nos informe se você usou nosso material, enviando um e-mail para [email protected].

Categorias: Cartões postais
Sobre Peter Harris

Peter e Miranda se mudaram para Portugal em 1983, para criar e gerenciar o primeiro centro de estudos de campo de A Rocha. Junto com seus quatro filhos, eles viveram no centro por doze anos até 1995, ano em que o trabalho foi colocado sob liderança portuguesa. Aí eles se mudaram para a França, onde criaram o primeiro centro francês, perto de Arles, onde viveram até 2010, ao mesmo tempo que coordenavam e ofereciam suporte às lideranças desse movimento em rápido crecimento. Agora eles estão de volta para o Reino Unido, por forma a continuarem o suporte a toda a família A Rocha por todo o mundo, e ao mesmo tempo ficarem mais próximos da sua própria família, incluindo seus netos. Eles contam sua história em Under the Bright Wings (1993) e Kingfisher’s Fire (2008).

Veja todos os artigos de Peter Harris (10)

Os comentários estão desativados.