Missão: Salvando almas ou salvando focas?
Um amigo me escreveu em um e-mail esta semana: “A Grande Comissão se trata claramente de fazer discípulos, e não de ecologia ou cuidado com a criação. É correto que as igrejas se envolvam no cuidado com o planeta, mas como projeto secundário – evangelismo e discipulado vêm antes. Então, não é que nós não salvamos focas, mas o fazemos depois de salvarmos almas.”
O e-mail tocou num nervo. Embora eu seja comprometido com o cuidado da criação há 20 anos, um profundo reflexo ainda me faz questionar a prioridade do que estou fazendo. Isso é saudável…. Se me leva de volta ao que a Bíblia realmente diz. Então, quais indicadores as escrituras nos dão? Seria o cuidado com a criação realmente uma distração de nossa ‘atividade principal’ de evangelismo? Há tanto a dizer, e em um post curto eu só posso responder em tópicos… Mas por favor, junte-se à discussão!
1. A Grande Comissão de Jesus em Mateus 28:19-20 nunca mencionou ‘salvação de almas’ ou evangelismo! Ele diz ‘façam discípulos’ que inclui, mas vai muito além de fazer convertidos. Também inclui ensinar pessoas a “obedecer a tudo o que eu lhes ordenei”… Resumido em ‘Ame a Deus e ao seu próximo’… Ambos os quais significam cuidado com a criação – a qual Deus ama e sustenta, e sem a qual nosso próximo passa fome.
2. A ‘Grande Comissão’ está escrita de forma um pouco diferente em cada evangelho. Em Marcos 16:15 Jesus diz: ‘Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.’ O Evangelho é boa notícia não apenas para almas, não apenas para pessoas, mas para toda a criação. Como ‘pregamos’ a montanhas e florestas e animais? São Francisco alegadamente disse: ‘Pregue o evangelho sempre; quando necessário use palavras.’
3. Não se esqueça da primeira comissão! O Novo Testamento se baseia no Antigo, e o comando fundamental que Deus deu a toda a humanidade (Gênesis 1:26-28, 2:15) é refletir a imagem de Deus (seu caráter justo e amoroso) na forma como governamos sobre a criação.
4. Jesus só pregou e ‘salvou almas’? Não! Ele proclamou e demonstrou a boa notícia de Deus como um todo – para o doente, o pobre e acalmando as tempestades da natureza. Em suas parábolas, ensino e estilo de vida, ele foi um modelo de atenção cuidadosa aos ritmos da criação.
5. O evangelho que Jesus pregou nunca foi sobre ser salvo deste mundo. Consistia na boa notícia do Reino de Deus – pelo qual oramos e o qual buscamos concretizar ‘na terra como no céu’. Trazer o céu à terra é trabalho do Reino!
6. A natureza é o melhor evangelista de Deus. Paulo disse em Romanos 1:20 – o poder e caráter de Deus são ‘vistos claramente’ por meio ‘das coisas criadas’. Quando falhamos em cuidar da criação, nosso evangelismo é menos efetivo. Contudo, como disse o evangelista Rob Frost, ‘Quando os cristãos levam a Terra a sério, as pessoas levam o evangelho a sério.’
A missão bíblica tem o evangelismo em seu centro, mas vai muito além. A Convenção de Lausanne a define como ‘usar a igreja toda para trazer o evangelho todo para o mundo todo’. Ela inclui evangelismo, discipulado, misericórdia, justiça e cuidado da criação – estes ‘Cinco Marcos da Missão’ são como cinco dedos de uma mão, ou os cinco sentidos. Separá-los ou apoiar-se em um só em detrimento dos outros é reduzir o evangelho – a completa boa notícia do Reino de Deus. Não se trata apenas de salvar almas, e sim de ‘salvar inteiros’ – pessoas inteiras em uma criação inteira. E se Jesus não é Senhor de tudo, então ele não é Senhor de nada.
Tradução: Juliana Pereira / Sabrina Visigalli do Rosário / A Rocha Brasil
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