Jonas: Salve a baleia!
O livro de Jonas é curto e contém somente uma história. Ela é normalmente interpretada como algo que nos relembra que não podemos fugir de Deus, e que mostra o Evangelho como as boas novas de que Deus deseja perdoar o pecado daqueles que genuinamente se voltam para ele. Claramente, tudo isso está lá, mas há mais em Jonas e no Evangelho do que essa visão sugere.
Tente ler o livro, mesmo que você já o conheça bem, perguntando-se qual o papel que a criação não-humana tem na história. (Isso deve levar apenas 10 minutos.) A resposta óbvia é o grande peixe ou baleia… os hebreus antigos não faziam distinção entre grandes criaturas marinhas, e biólogos modernos afirmam que a única espécie que poderia ter engolido Jonas seria provavelmente um grande tubarão branco. Para além disso, eu gostaria de sugerir três áreas de grande importância em Jonas.
Criação e evangelismo: Alguns cristãos fazem uma oposição entre preocupação ambiental e evangelismo, sugerindo que a primeira é um desperdício de tempo e uma distração da tarefa de salvar almas. Entretanto, em Jonas, como é a experiência de muito de nós n’A Rocha, o contrário ocorre. A criação é o maior evangelista de Deus. Quando Jonas está num barco tentando fugir de Deus e os marinheiros descobrem que é por causa dele que o barco está afundando, eles perguntam a Jonas quem ele é. Ele responde: «Eu sou hebreu, adorador do Senhor, o Deus dos céus, que fez o mar e a terra» (Jonas 1:9). Os marinheiros ficam aterrorizados, e note que seu medo é devido a quem o Deus de Jonas é – não uma divindade tribal qualquer, mas o todo-poderoso Criador. A criação testemunha do caráter e do poder de Deus (Romanos 1:20). Sua beleza, design, diversidade, complexidade e incrível poder nos levam a nos ajoelharmos em humilde adoração, como aconteceu com os marinheiros (1:16). Quando negligenciamos a criação, silenciamos seu louvor e danificamos o mais eloquente evangelista de Deus.
A criação e o trabalho de Deus no mundo: O peixe que engoliu Jonas é muitas vezes tratado simplesmente como fonte de humor e entretenimento. Eu, porém, me senti impactado pela frase, «o Senhor fez com que um grande peixe…» (1:17), e, continuando a leitura, deparei-me com o mesmo tipo de expressão repetidas vezes. O Senhor providenciou o peixe, fez crescer uma planta folhosa para fornecer sombra a Jonas (4:6), mandou uma lagarta para comer a planta (4:7), e trouxe um vento oriental muito quente (4:8) que provocou uma forte dor de cabeça em Jonas. Deus está trabalhando ativamente na criação, e no livro de Jonas Deus usa a criação respectivamente para salvar, abrigar, destruir e nos trazer de volta ao bom senso. A criação é instrumento de Deus, e – ao contrário dos humanos durante a maior parte desta história – a criação não-humana tende a fazer exatamente o que Deus pede: «O Senhor deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme» (2:10). O fato de a criação ser instrumento de Deus não significa que podemos tratar a natureza de forma instrumental. Ao contrário, devemos respeitar a obediência da criação aos comandos de Deus e estar atentos ao que Deus nos fala através da criação.
A criação e o evangelho: Há um debate interminável sobre como definir o evangelho cristão. Em 2010, o Compromisso da Cidade do Cabo do movimento Lausanne reiterou, «…a verdade bíblica de que o evangelho é a boa nova de Deus, através da cruz e da ressurreição de Jesus Cristo, para pessoas individuais, e para a sociedade, e para a criação.» A boa nova de Deus é maior do que a salvação de almas. Jonas foi enviado a Nínive para proclamar o julgamento e a salvação de Deus, e, significativamente, isso abrangia tanto moradores humanos quanto os animais da cidade. Tanto uns quanto os outros foram ordenados a jejuar e cobrir-se de pano de saco (3:7–8). Quando a cidade se arrependeu, Jonas ficou furioso, reclamando do quanto Deus é «misericordioso e compassivo» (4:2–3). Este é um eco irônico do Salmo 145:9 que celebra, «O Senhor é bom para todos; a sua compaixão alcança todas as suas criaturas.» Todas as suas criaturas, é claro, inclui criaturas não-humanas assim como humanas. O versículo final do livro de Jonas é uma resposta teologicamente significativa de Deus: ‘Não deveria eu ter pena da grande cidade de Nínive, onde habitam mais de cento e vinte mil pessoas que não sabem distinguir a mão direita da esquerda, além de muitos animais?’ (4:11). Jonas talvez não goste, e nós podemos achar estranho, mas é melhor nos habituarmos, porque o fato é que a preocupação de Deus, e as boas novas do evangelho da salvação, incluem tanto pessoas quanto animais. Então, salve a baleia… por amor de Deus!
Tradução: Juliana Szabo / Sabrina Visigalli
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