12 outubro 2015 | Chris Naylor | 0 comentários

Cartões Postais do Oriente Médio, por Chris Naylor: 4. Os visitantes soltam uma bomba

1996–98 Vale de Bekaa, Líbano

Qab Elias, Bekaa Valley, in 1996, home to the Naylor family during their early years in Lebanon
Qab Elias, Vale de Bekaa, em 1996, a casa da família Naylor durante seus primeiros anos no Líbano

Chris e Allison [Walley] frequentemente planejavam a visita de cientistas, conservacionistas e criadores de políticas públicas à zona úmida, o que geralmente significava uma passagem por nosso apartamento, pelo menos para uma refeição. Os visitantes normalmente vinham de Beirute e ficavam para o almoço. Estes visitantes estavam vindo de Portugal e poderiam ficar… bem, Chris não tinha certeza. De qualquer maneira eram bem-vindos, particularmente quando descobrimos que eles haviam fundado o primeiro Centro de Estudos de Campo Cristão do mundo e uma organização chamada A Rocha próximo de uma zona úmida no Algarve.

Peter e Miranda Harris ficaram quase uma semana conosco. Começou inocentemente. Eu estava encantado por conhecer outro observador de aves que conhecia seus pássaros mediterrâneos e havia passado por muitos dos impasses teológicos que eu estava me debatendo como trabalhador cristão novato. Susanna ficou encantada em saber que a Miranda não era uma observadora de aves e que ela fez sucesso instantâneo com nossos filhos. As crianças amavam os visitantes, particularmente os tipos raros que liam histórias para eles, e também curtiam os piqueniques planejados para mostrar às visitas as maravilhas de nosso pedaço do paraíso.

Enquanto as crianças brincavam no riacho e Susanna e Miranda comparavam opiniões sobre a vida transcultural em lados opostos do Mediterrâneo, Peter e eu estávamos sentados silenciosamente num promontório avistando o desfiladeiro Ras el Ain, logo acima do vilarejo, onde eu prometi a Peter que veríamos a ave trepadeira-rupestre. Já havíamos ouvido o seu gorjeio puro, então sabíamos que as aves estavam por ali, mas ainda não havíamos visto estes exímios acrobatas, usando suas máscaras de salteador.

Eu aproveitei a pausa na atividade para perguntar a Peter o que ele achava do sarcasmo de Abu Charbel, que ainda me incomodava (veja o outro blog). Após ouvir-me, Peter respondeu, “Você está quebrando o molde. Abu Charbel, como muitos outros, pensam que a igreja deveria se ater a suas áreas de trabalho tradicionais. Ensino Bíblico, trabalho pastoral, educação e talvez ajuda médica. É claro, mesmo que este seja seu ponto de partida, a crise ambiental no momento é tão séria que há mais refugiados devido à destruição de ecossistemas do que por causa da guerra, e a igreja precisa se envolver.”

“Mas e quanto às prioridades?” Pressionei. “O que é mais importante? Pregação, ajuda aos pobres ou a conservação de espécies raras?”

“Muito raramente é uma questão de alternativas, certamente a nível de comunidade. E é assim que deveríamos estar trabalhando. Uma igreja que não tem uma resposta ao maior problema da atualidade não será ouvida para nada mais. Mas até isso é pragmático. Na raiz é uma questão de obediência. Deus comandou que cuidássemos da criação por ele, e é fazendo o trabalho para o qual fomos criados que O adoramos. Nós O adoramos quando somos obedientes.”

As coisas estavam ficando mais claras. “E é assim que a criação O adora. Quero dizer que as plantas, animais, até as pedras – são importantes! A matéria é importante porque pode adorar simplesmente sendo aquilo que foi criada para ser – fazendo aquilo que foi criada para fazer.”

“E esta é a heresia da extinção,” Peter continuou. “Há um extermínio de espécies devido à atividade humana que empurrou as taxas de extinção para milhares de vezes acima do normal. Estamos silenciando o coro que deveria estar cantando glória a Deus. Pense sobre projetos de conservação que demonstrem o amor de Deus por este mundo criado, protejam o meio ambiente para as comunidades mais pobres e deem oportunidades para explicar o ‘porquê’ – por que a igreja está salvando uma orquídea – aos que têm fé e aos que não a têm..”

Antes de a conversa ficar mais pessoal, fui salvo pela trepadeira-rupestre que fez uma aparição em uma elevação rochosa no lado oposto do desfiladeiro. Continuamos a nos deleitar mostrando ao Peter e à Miranda nosso novo mundo e eles continuaram a abrir um ainda maior para nós – ou mais especificamente, este aqui, mas olhado através de lentes bíblicas. Pouco antes de partir, Peter e Miranda tinham mais uma surpresa para nós.

“Nós achamos que parece que vocês têm os ingredientes para um projeto A Rocha aqui,” disse Peter, enquanto bebíamos nosso café pós-jantar, após retirar os pratos e as crianças da mesa. “São os ingredientes-chave da receita,” continuou Miranda. “Um refúgio precioso de vida selvagem clamando por conservação, com cristãos pondo sua teologia em prática na vanguarda de uma comunidade, tentando salvá-la.”

Não ficamos muito surpresos, já que falamos a semana toda das possibilidades de conservação, educação ambiental, e até ecoturismo nos pântanos, aprendendo a partir da experiência de A Rocha em Portugal. Mas Peter e Miranda deixaram a bomba para o final. “E achamos que vocês são o casal certo para liderá-lo.”

Este é o quarto de seis excertos de “Cartões Postais do Oriente Médio”, por Chris Naylor. Publicado por Lion Hudson em março de 2015, e que pode ser adquirido de sua página no site de Lion Hudson.

Tradução: Sabrina Visigalli do Rosário / Elisa Gusmão

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Categorias: Cartões postais
Sobre Chris Naylor

Antes de se juntar a A Rocha, Chris possuía ampla experiência no ensino de ciências e gestão escolar no Reino Unido e no Oriente Médio, frequentando a Faculdade Bíblica e aprendendo árabe (na Jordânia) ao longo do caminho. Ele se juntou À Rocha em 1997 trabalhando, até 2009, como Diretor do Líbano onde foi co-fundador dos trabalhos no local. Ele inspecionava o programa de restauração do habitat na Zona Úmida de Aammiq, o desenvolvimento do projeto de educação ambiental e o programa de pesquisa de campo, identificando 11 novas importantes Áreas de Aves. Desde abril de 2010 é Diretor Executivo d’A Rocha Internacional e trabalha em Oxfordshire. Seu livro Postcards from the Middle East: How our family fell in love with the Arab world (“Cartões Postais do Oriente Médio: Como nossa familia se apaixonou pelo mundo Árabe”) foi publicado por Lion Hudson em março de 2015.

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