Cartão postal do Chipre: luz e sombra
Em abril deste ano ocorreram tempestades fora de época no Chipre. Viajando para ver se havia alguma possibilidade de um projeto para A Rocha, fiquei impressionado com o contraste entre a luz do sol e a sombra resultante. Essa combinação de luz e escuridão parece caracterizar a ilha.
O padrão de luz solar e sombra pode ser visto na história do Chipre. Erguendo-se do Mediterrâneo, acessível a partir da África, Ásia e Europa, Chipre sempre recebeu visitantes. Alguns deles, vindos em busca de comércio, turismo ou refúgio, foram benéficos e contribuíram para a cultura rica e diversificada da ilha. O ‘lado sombrio’ é que outros visitantes foram menos bem-vindos: houve incontáveis ataques e invasões. Quase todos, dos fenícios aos venezianos, dos bizantinos aos britânicos, quiseram sua parte da ilha. Na verdade, os britânicos ainda estão lá, como residentes das Áreas das Bases Soberanas e como cerca de 65.000 expatriados.
Na política e na cultura também se encontra o tema da luz do sol e da sombra. Como milhões de turistas descobriram, os cipriotas são acolhedores, sociáveis e preparados para tolerar os pontos fracos dos estrangeiros. Os britânicos consideram a ilha um atrativo especial: um lugar ao sol onde se fala inglês e se dirigem carros do lado esquerdo! A sombra que cai aqui é sua divisão há 40 anos entre a internacionalmente reconhecida República de Chipre, de língua grega, e a universalmente isolada República Turca de Chipre do Norte. Entre as duas, há uma considerável zona intermediária controlada pela ONU. Não é preciso ficar muito tempo em Chipre para perceber que essa divisão não é simplesmente uma questão histórica, mas uma ferida ainda aberta. E ao ouvir os caças-bombardeiros decolando da base da RAF em Akrotiri em direção ao leste para a Síria, você se lembra de que a sombra de um novo conflito avança lentamente para a ilha.
Nas questões ambientais, também há luz e sombra. Há luz na riqueza formidável da fauna e flora, complementada na primavera e no outono por milhões de aves migratórias que usam a ilha como uma escala de valor inestimável. Há luz também em alguns dos brilhantes projetos existentes: o centro ambiental de última geração Akrotiri, o excelente trabalho da Birdlife Cyprus e muitos outros projetos de conservação ambiental de primeira classe. O lado sombrio aqui são os danos significativos provocados pelos seres humanos à vida selvagem, por meio da caça e captura, do desmatamento e da urbanização aparentemente descontrolada. Na verdade, foi especificamente a captura de aves que atraiu A Rocha a essa missão de avaliação. Embora ilegal, o prato ambelopoulia – composto de pássaros canoros cozinhados – é suficientemente rentável para que criminosos depositem um grande número de redes quase invisíveis e gravetos cobertos com cola para capturar as aves migratórias. As ‘capturas acidentais’ não comestíveis, que podem incluir poupas, corujas e falcões, têm os pescoços torcidos e são jogadas fora como lixo. Trata-se de um negócio difícil de deter, sobretudo porque – o que é um tanto embaraçoso – ele ocorre mais intensamente nas Áreas das Bases Soberanas, de controle britânico.
Luz e sombra estão em toda parte do Chipre. Uma das principais forças de A Rocha, que vem da nossa base bíblica, é uma visão do mundo ao mesmo tempo otimista e realista. Alegramo-nos com tudo o que é bom, vendo nisso a obra de um Deus que é bom. Do mesmo modo, reconhecendo que vivemos em um mundo caído; ficamos tristes, mas não surpresos com as trevas do mal. No entanto, estamos vivendo uma esperança resumida nas palavras do início do Evangelho de João: «A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram» (1:5). Sabemos que, por meio de Cristo, o bem acabará por triunfar e a luz destruirá a escuridão. Se qualquer projeto do Chipre emergir para nós, esse otimismo e realismo certamente nos serão úteis no futuro.
Tradução: Paulina Itano / Elisa Gusmão
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