17 junho 2019 | Paul Kariya | 0 comentários

Um pescador e A Rocha

Neste verão [de 2018], após 10 anos como administrador, eu me aposentei da diretoria de A Rocha Internacional. Como é que o filho de um pescador imigrante do Japão chegou a se envolver com o cuidado com a criação?

Eu cresci na costa oeste da Ilha Vancouver no Canadá na época quando o salmão selvagem do Pacífico era vasto e abundante. Da perspectiva de uma criança era uma época paradisíaca e um lugar de poças de maré, arvores imponentes, montanhas muito próximas e o oceano sempre presente.

[tweet_dis]Você sabia que os imponentes cedros e abetos das florestas costeiras têm as assinaturas químicas que indicam que essas árvores foram alimentadas pelo salmão? Ursos-negros e pardos são os portadores e transmissores dos fertilizantes.[/tweet_dis]

Nós sabemos que existem matilhas de lobos próximo da costa que vão pegar peixes por causa da proteína. Câmeras remotas com lentes de visão noturna têm registrado famílias de lobos que vão pescar salmão de noite.

Orca (Orcinus orca) do bando residente do sul do Mar de Salish caçando um salmão-rei (Oncorhynchus tshawytscha) – foto tirada por John Durban / NOAA

Orca Orcinus orca do bando residente do sul do Mar de Salish caçando um salmão-rei Oncorhynchus tshawytscha – foto por John Durban / NOAA (CC BY–SA 2.0)

As orcas do bando sul são comedoras exigentes: elas preferem quase exclusivamente salmão-rei, a maior espécie de salmão do Oceano Pacífico. É triste que, na medida que populações de salmão-rei têm diminuído rapidamente em diversos locais da da costa, também agora temos menos baleias. Uma família de orcas em passagem pode se alimentar das populações de focas e leões-marinhos, as orcas residentes estão literalmente morrendo de fome, tudo isto porque o salmão-rei está em apuros. Mesmo que haja salmão-vermelho e salmão-rosado em abundância, elas não os comem.

O Pacífico Noroeste da América do Norte é conhecido por suas ricas culturas indígenas, baseadas nos salmões, nos cedros e na abundância do oceano. É triste que, na medida em que a riqueza de salmão tem diminuído, as populações indígenas também têm sofrido. Elas não podem mais acessar a abundância do mar como faziam antes. A questão pura e dura é: será que podem existir culturas Tsimshian, ou Haida, ou Nuu-chah-nulth se deixar de existir salmão?

Do ponto de vista biofísico e ecológico, a região onde eu cresci ainda está relativamente sadia, mas os inquietantes sinais de impacto e declínio estão aumentando. A pescaria comercial do salmão não é mais a âncora da economia da comunidade onde eu cresci.

É óbvio que atividades humanas estão impactando negativamente os salmões e seu habitat. Não se trata de uma causa única, mas sim o impacto de milhares de fontes. Esgoto urbano, regulação do caudal dos rios, remoção de vegetação, antigos projetos hidrelétricos, agroflorestais e mineiros têm reduzido a abundância e a diversidade. Agora, as espécies invasoras e um clima em mudança estão exacerbando os problemas.

Como adolescente eu me tornei um seguidor de Jesus Cristo e na medida em que eu cresci na minha fé, minha preocupação pelo ambiente marinho e pelos povos indígenas continuou cresceu também. Assim como Jesus Cristo se aproximou de Pedro e André e escolheu pescadores para o seguir e se tornarem pescadores de homens, eu senti um chamado de me envolver na A Rocha.

Os pastores são figuras proeminentes nas Escrituras e por uma boa razão, para proteger os rebanhos e estarem conscientes do meio ambiente. Mas eu tenho meus favoritos… e fico animado de aprender sobre o papel dos pescadores em trazer as Boas Novas ao mundo inteiro, incluindo à criação.

A Rocha é uma organização de esperança. Apesar de serem os humanos que têm negativamente impactado o meio ambiente e os salmões, também são os humanos que estão ajudando a conservar, proteger e reconstruir tudo isso. A Rocha Canadá, a partir de Brooksdale – sua quinta e centro de estudos de campo – tem adotado o pequeno rio Campbell, que desagua no Oceano Pacífico perto de Vancouver, em suas atividades de estudo, ensino e restauração ambiental. No norte da Colúmbia Britânica, pessoas da A Rocha que cuidam de riachos estão demostrando o gerenciamento correto do rio Bulkley.

Eu ainda continuo indo até ao mar… para pescar.

Tradução: Johannes Peter Stölting

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Categorias: Histórias
Sobre Paul Kariya

O Dr Paul Kariya é Consultor Estratégico Sênior para a Iniciativa Great Bear das Nações Indígenas Costeiras, uma aliança de nove nações indígenas da Colúmbia Britânica (Canadá) com enfoque na criação de empregos e na proteção da Floresta Úmida Great Bear. Anteriormente, Paul foi Diretor Executivo de Clean Energy BC, e Diretor Executivo da Pacific Salmon Foundation. Trabalhou no setor público, tanto a nível federal como provincial, e foi professor associado na Universidade Trinity Western em Langley, BC. Paul tem um bacharelado da Universidade da Colúmbia Britânica e um mestrado e doutorado da Universidade Clark no Massachusetts EUS), e é um Mentor da Fundação Trudeau. Filho de um pescador de salmão nipo-canadense, Paul cresceu na Costa Oeste da ilha de Vancouver; o amor pelo oceano e pela criação de Deus vem desde a infância. Paul é casado e tem três filhos adultos.

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