Os seres humanos são uma espécie de vírus?
No filme Matrix, o agente Smith (na realidade um super-computador em forma humana) disse: «Eu gostaria de compartilhar uma revelação que tive durante meu tempo aqui. Veio a mim quando tentei classificar a sua espécie. Percebi que vocês não são realmente mamíferos. Todo mamífero neste planeta desenvolve instintivamente um equilíbrio natural com seu meio ambiente; vocês não fazem isso. Vocês se mudam para uma área, se multiplicam e se multiplicam até que todos os recursos naturais sejam consumidos. A única forma de sobreviverem é se propagando para outra área. Há um outro organismo neste planeta que segue o mesmo padrão: os vírus. Seres humanos são uma doença, um câncer neste planeta. Vocês são uma praga, e nós somos a cura.»
A ideia de seres humanos como uma espécie de vírus tem se tornado cada vez mais difundida, e com razão. O número de humanos cresce exponencialmente enquanto nos alimentamos parasitariamente do ‘corpo’ da Terra. Nenhuma parte do planeta resta intocada à medida que pululamos sobre ele, multiplicando-nos, poluindo, consumindo, destruindo. Enquanto a maioria das espécies vive em equilíbrio com seus ecossistemas, nós parecemos incapazes de fazer o mesmo.
Ainda assim, a maior parte dos cristãos ficam horrorizados diante desta ideia. Certamente somos «feitos à imagem e semelhança de Deus»? Não somos a mais especial de todas as espécies? Como podemos ser um vírus no planeta Terra? Afinal, Deus não confiou a criação ao nosso cuidado?
Quero sugerir que precisamos ouvir com mais atenção os críticos da humanidade, e olhar novamente para o que a Bíblia realmente diz sobre o lugar da espécie humana na natureza (antropologia ecológica). Afinal, não foram seres humanos feitos à imagem e semelhança de Deus que introduziram o pecado e a morte na criação? Não é o comportamento humano que, de acordo com Oséias 4:1–3, causa a morte dos animais do campo, das aves do céu e dos peixes do mar, e faz a terra se lamentar? Talvez não sejamos realmente um vírus, mas estamos profundamente infectados com uma doença viral. O impacto ecológico de nossa arrogância e ganância está entre as mais claras evidências de pecado no mundo hoje.
Então como fica o cuidado com a criação, o sermos bons mordomos? É uma tarefa sem esperança? Sim e não. Precisamos redescobrir uma humildade ecológica apropriada. Não somos melhores que nossos companheiros criaturas – em vários pontos somos piores. Deixados à nossa própria sorte, James Lovelock tem razão quando diz, «Eu esperaria antes ver uma cabra tornando-se uma boa jardineira do que os seres humanos tornando-se bons mordomos da Terra.» Ainda assim, surpreendentemente, fomos escolhidos – não por quem somos, mas por causa de quem Deus é (então não podemos levar o crédito). Somos simplesmente uma parte da criação biodiversa de Deus, e ainda assim fomos chamados à parte. Gênesis 1 e 2 claramente nos apresentam como criaturas de dupla natureza: feitos à imagem de Deus e feitos do pó da terra. A menos que mantenhamos essas duas naturezas unidas, continuaremos a falhar na tarefa de conservação e sustentabilidade. O chamado para administrar a Terra – servindo e conservando suas criaturas – não é desculpa para arrogância e excesso de autoconfiança. Este chamado requer uma profunda humildade, um profundo senso de interdependência e – eu diria como cristão – entendimento de nossa necessidade de Deus.
Tradução: Juliana Pereira / Sabrina Visigalli do Rosário / A Rocha Brasil
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