Reconciliando conservação e desenvolvimento
«Todas as vezes que você me pedir para escolher entre conservação e desenvolvimento, eu vou escolher o desenvolvimento.»
Minha colega Rachel Lamb e eu ouvíamos esse comentário repetidamente logo que chegamos na República Democrática do Congo (RDC). Estávamos na Universidade Cristã Bilíngue do Congo (Université Chrétienne Bilingue du Congo – UCBC), em Beni, região leste da RDC, para participar de colóquios no campus, com duração de uma semana, sobre o cuidado com a criação.
Como o nome sugere, a UCBC é uma universidade cristã bilingue com ensino em francês e inglês, administrada pela Iniciativa Congo. Está localizada em uma região que ainda experimenta instabilidade e conflitos consideráveis, e foi fundada com a visão de levantar uma nova geração de líderes cristãos para ajudar a RDC a ser curada e a crescer após décadas de guerra e corrupção. Esta visão – juntamente com seu mote, “Transformados para transformar” – está gerando frutos de maneira inspiradora, já que os alunos se unem com iniciativas extraordinárias e com empreendedorismo para identificar, e começar a abordar, as necessidades de suas comunidades.
O antagonismo entre conservação e desenvolvimento é um quesito essencial a ser debatido. A Bacia do Congo contém a segunda maior floresta tropical do mundo, atrás apenas da Amazônia, e Beni faz fronteira com o Parque Nacional Virunga, que abriga muitas espécies raras incluindo as populações do Okapi e do Gorila das Montanhas. Os embates são ferozes entre aqueles que tentam proteger o parque e sua rica biodiversidade e os que lutam para sobreviver e utilizar os recursos naturais para desenvolver suas comunidades extremamente pobres. Grupos de rebeldes e bandidos também desestabilizam a região. Pouco tempo antes de nossa chegada, o diretor da agência governamental que administra Virunga foi vítima de uma emboscada e levou um tiro. Ele sobreviveu – mas vimos fotos do funeral de um guarda florestal que não teve a mesma sorte.
Então de que lado ficamos aqui: da natureza ou das pessoas?
Os cristãos têm um papel particularmente estratégico e de esperança para desempenhar em contextos tão desafiadores. Jesus enfrentou questões semelhantes quando lhe foi pedido que escolhesse entre prioridades aparentemente conflitantes. Os israelitas deveriam honrar a César pagando o imposto imperial ou honrar a Deus e submeter-se à cólera do Império Romano (Mateus 22.15-22)? Deveriam apedrejar a mulher pega em adultério ou deixá-la viver e assim desobedecer à Lei de Moisés (João 8.2-11)? Em cada caso, Jesus não caiu na armadilha de escolher entre as opções ruins que foram colocadas diante dele. Pelo contrário, Ele criou uma terceira via que chegou ao coração e trouxe reconciliação. Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus; que aquele que não tem pecado atire a primeira pedra.
Nós também temos uma oportunidade, em situações como essa, de apresentar uma terceira via. E instituições Cristãs como a UCBC têm papéis importantes a desempenhar no desenvolvimento e concepção de soluções práticas que sirvam ao contexto local. Não temos que escolher entre cuidar da criação ou cuidar das pessoas. É uma escolha falsa. No final das contas, não conseguimos cuidar das pessoas sem cuidar da natureza, e vice-versa. Ambos têm que andar juntos para que dê certo. Como humanos somos parte integral da natureza e intrinsecamente conectados com toda a criação. Quando a terra não é saudável as pessoas não o são, e quando a terra não está em paz as pessoas também não experimentam a paz. Assim como somos transformados para transformar – como os campeões da UCBC – somos também reconciliados para reconciliar.
O que lhe parece reconciliar ambas as prioridades geralmente antagônicas de conservação e desenvolvimento? As questões que enfrentamos em Beni imediatamente me lembram do trabalho de A Rocha ao redor do mundo, e do porque ele é tão essencial hoje em dia. Projetos de conservação baseados nas comunidades – como o programa ASSETS de A Rocha Quênia, que tivemos o prazer de visitar após nosso tempo na RDC – são onde as necessidades das comunidades são satisfeitas e especificamente a mordomia e restauração da criação avançam juntas.
A UCBC já traçou esse caminho com a aquisição de instalações solares, e tecnologia limpa e adequada de obtenção de energia, assim como a implantação de jardins públicos chamados “jardins da paz” (peace gardens), projetos agroflorestais e mais. Eles também estão estabelecendo uma parceria conosco do Young Evangelicals for Climate Action (Jovens Evangélicos pelas Ações Climáticas) para criar um Programa de Associados que irá capacitar estudantes selecionados para liderar seus campus nos próximos passos rumo a materializar a crescente conscientização e entusiasmo em ações práticas de campo e em projetos.
Deus está trabalhando aqui – fomos convencidos disso durante nossa breve visita – e estamos animados pelos frutos que virão enquanto a UCBC avança reconciliando conservação e desenvolvimento em seus campus e comunidades do entorno. Quem sabe um dia haja até um projeto A Rocha aqui?
Tradução: Sabrina Visigalli do Rosário / Ana Luisa Barreiros
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