O poder de um abraço de abelha gigante
Crescer no século XXI tem sido uma dança entre progresso e solidão. Claro, há vantagens – como a tecnologia, quando usada com sabedoria. Ela ligou-nos globalmente, abriu portas a uma infinidade de informações e criou novas oportunidades. Mas uma das desvantagens mais desoladoras é o desaparecimento silencioso da comunidade, à medida que mais pessoas se inclinam para a autossuficiência e o individualismo.
Ultimamente, tenho-me sentido fascinada pela natureza das abelhas e das formigas – criaturas que nunca sobreviveriam em condições tão isoladas.
Sendo a mais nova de quatro irmãos, vi-me muitas vezes como a mulher a dias. Receava ouvir o meu nome ser chamado de algum canto distante da casa – isso normalmente queria dizer que alguém tinha uma tarefa para mim. E lembro-me de estar sempre a pensar: “Quando é que isto vai acabar?
Agora, com 20 e poucos anos, tenho o prazer de anunciar que… não acabou. E não, não estou a ser sarcástica. Estou genuinamente grata por não ter acabado. Eis a razão.
Em meados de abril, a minha irmã Esther ligou-me para me dizer que a nossa mãe estava no hospital. Tinha-se sentido tonta e estava a ter palpitações cardíacas. Eram cerca das 18 horas e eu estava na rua a lavar a roupa. Disse-lhe que estaria no hospital dentro de minutos.
Quando cheguei, a minha mãe estava sozinha, com um ar triste e cansado. Mas assim que me viu, o seu rosto começou a iluminar-se. Eu tinha-lhe trazido uma chávena de chocolate quente e uma empada de frango, adivinhando – corretamente – que ela não tinha almoçado, um hábito pelo qual estou sempre a ralhar com ela. Mais tarde, a Esther chegou e, juntas, andámos para trás e para a frente entre os balcões do hospital, pagando exames e tratando das coisas no laboratório.
O meu pai telefonou, preocupado. Pedimos-lhe gentilmente que não viesse – tinha acabado de ter um ataque cardíaco em janeiro e não queríamos que conduzisse à noite. Em vez disso, telefonou ao nosso tio Charles, que vive aqui perto. O tio Charles apareceu pouco depois e sugeriu que fôssemos jantar a casa dele enquanto esperávamos pelos resultados das análises, que demorariam cerca de três horas. Eram agora 9 da noite.
Em casa dele, aconteceu uma coisa linda. O calor da família, as conversas e os risos, a presença de todos – tudo isso envolveu a minha mãe como um cobertor. Ela acalmou-se. Sorriu. Tornou-se novamente faladora. Quando a vi sair daquela casa, apercebi-me de que tinha entrado com um fardo, mas que tinha saído mais leve. Era esse o poder da comunidade.
Fez-me lembrar a forma como as abelhas sobrevivem às estações mais frias: com um abraço de abelha gigante. Quando as temperaturas descem e a comida escasseia, as abelhas operárias – fêmeas estéreis – juntam-se à volta da rainha e das abelhas mais jovens, formando um grupo protetor. Durante este período, a rainha deixa de pôr ovos para poupar o pouco alimento que a colmeia tem. As abelhas operárias apertam-se umas contra as outras, fazendo vibrar os seus músculos de voo e virando-se para dentro, para que as abelhas do centro possam alimentar-se do mel armazenado. O calor coletivo que geram é suficiente para manter toda a colónia quente durante o inverno.
Nessa noite, vi a versão humana desse fenómeno. A minha família juntou-se à volta da minha mãe e zumbiu até ela ficar novamente quente. Tal como as abelhas, Deus nunca quis que enfrentássemos a vida sozinhos.
Fomos criados com uma necessidade profunda e inegável de ligação – concebidos para prosperar em relações que nos acompanham nos altos e baixos da vida. Independentemente do seu estado de relacionamento ou do local onde vive, o seu coração foi feito para a comunidade – união real, que preenche a alma e o lembra de que é visto, conhecido e nunca está sozinho.
Romanos 12:4-5 diz:
Tal como o nosso corpo tem muitas partes e cada parte tem uma função especial, assim é com o corpo de Cristo. Somos muitas partes de um só corpo e pertencemos todos uns aos outros’.
É uma lição que tive de aprender da forma mais difícil quando saí de casa dos meus pais. Estava entusiasmada por sentir o gosto da independência pela primeira vez, determinada a fazer tudo sozinha. O mais curioso? Nem sequer aguentei uma semana. Precisei do meu irmão Roy para pregar pregos nas paredes e instalar todas as lâmpadas – eu era demasiado baixa para lhes chegar. E embora o silêncio na minha casinha fosse por vezes aprazível, outras vezes parecia que faltava alguma coisa. Como por exemplo, alguém a chamar-me pedindo ajuda para alguma coisa. Estar ao serviço dos outros tinha-se tornado parte da minha identidade.
Eventualmente, esses momentos de silêncio eram preenchidos de novo – por chamadas de casa que me perguntavam como fazer funcionar um novo aparelho, planear o próximo almoço de família ou organizar a festa de aniversário de alguém. As noitadas de estudo bíblico com os meus amigos tornaram-se numa das minhas noites favoritas do mês. E sinceramente? Acho que aprendi que, por vezes, a comunidade tem a ver com aparecer – e zumbir por perto quando faz falta.