A simplicidade do Sabbath
Minha família guarda o sábado. Não no sentido religioso – isto é, nem sempre realizamos atividades religiosas. Mas o guardamos religiosamente. Normalmente, vamos à igreja. Normalmente, comemos algo simples – ovos e torrada são comuns no jantar de domingo. Normalmente, dizemos “não” a convites e compromissos, a não ser que envolvam família. No inverno, às vezes vamos esquiar; se chove, podemos ler um livro em voz alta em família; se faz sol, podemos caminhar na praia. Nossa única regra restrita é: nada de compras. A questão é que dizemos “não” a certas coisas. Saímos de nosso ritmo normal de trabalho e comércio e entramos numa nova forma de ser.
Essencialmente, o Sabbath tem a ver com tempo. Tem a ver com confiar em um ritmo de tempo que depende não de relógios sincronizados com o comércio, mas de um relógio maior, sincronizado com os ritmos da natureza e de Deus. O Sabbath tem origem na noção judaica de dia, que se inicia com o pôr do sol. Assim, de acordo com estes cálculos, adormecemos quando o dia está apenas começando, e despertamos quando o dia está pela metade. Numa sociedade em que valor é medido segundo produtividade, parece contra-intuitivo começar o dia deitando-se e fechando os olhos. O começo do dia é para escrever listas, fazer planos, dar largada, não para vestir o pijama. Mas na narrativa judaica da criação, o dia começa não com o nascer do sol, mas com o anoitecer – passaram-se a tarde e a manhã, esse foi o primeiro dia. O dia começa com descanso, que é seguido por trabalho; um trabalho já iniciado por Deus, e ao qual nos unimos.
O Sabbath também está enraizado no entendimento judaico de que este dia particular é um tipo especial de dia, não apenas em seus parâmetros, mas em sua essência. A narrativa judaica da criação, diz Abraham Heschel, declara que a primeira coisa em toda a criação que foi santificada é o sábado – não uma pessoa ou um lugar, mas um dia. Tudo o mais na criação é declarado bom, mas este dia, o sétimo dia, é declarado santo. O Sabbath, então, torna-se um “palácio no tempo”, ao qual somos convidados. O convite, escreve Heschel, é para nos afastarmos da «tirania das coisas do espaço» para «compartilhar do que é eterno no tempo; para deixarmos de lado os resultados da criação e considerarmos o mistério da criação».
Tradução: Juliana Szabo / Sabrina Visigalli do Rosário
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