14 novembro 2016 | Ruth Valerio | 0 comentários

Deus de todos os ecossistemas

É sempre legal quando você tem um momento de ‘eureca’ em suas reflexões (especialmente para mim porque eu não tenho com muita frequência…), e tive um desses há poucos dias atrás.

A teia da vida: cartaxo-nortenho (Saxicola rubetra) comendo uma mariposa-tigre rubi (Phragmatobia fuliginosa) (foto: Edmund Fellowes)

A teia da vida: cartaxo-nortenho Saxicola rubetra comendo uma mariposa-tigre rubi Phragmatobia fuliginosa (foto: Edmund Fellowes)

Estava refletindo sobre algumas palestras que eu iria dar e que eram baseadas no esquema triplo relacional que uso muito quando falo sobre o que significa ser uma seguidora de Jesus, e como o cuidado com o vasto mundo natural é uma parte essencial disso. Para ser bem sucinta (pois o tema não é o foco dessa publicação), eu vejo os seres humanos como tendo sido criados para relações: com Deus, uns com os outros e com a criação maior; a Queda quebrou essas relações e Jesus veio restaurá-las em todos os níveis (p.ex., sua vida, morte e ressurreição foram mais que reconciliar os seres humanos com Deus, por mais importante que isso seja). Somos chamados a nos juntar a esse Evangelho de reconciliação em nossas próprias vidas, como indivíduos e como igrejas, para trabalhar pela restauração das relações – a paz – em todos os níveis.

(É bem sucinto mesmo: posso passar uma ou duas horas detalhando cada parágrafo, trabalhando com material bíblico e analisando suas implicações práticas!).

Enfim, a questão é que eu vejo essas relações surgindo do fato de que fomos criados, e refletimos, um Deus que é no fundo uma relação como Trindade.

Portanto, os seres humanos são fundamentalmente relacionais: não existimos num isolamento independente e esplêndido das coisas e seres a nossa volta, e encontramos nossa identidade através das relações que criamos em nossas vidas – com Deus, com os outros e com o mundo natural – e quando qualquer um desses está ausente ou em desordem, o nosso eu/nossa humanidade sofre.

Ao refletir nisso me deparei com o fato de como isso se relaciona mais amplamente do que só com os humanos, porque o fato é que o mundo natural em si é construído por relações. Nós costumamos chamá-los de ecossistemas e não percebemos o que eles nos revelam, mas teologicamente eles são só relações.

Pense nisso: para onde quer que você olhe, tudo que vê (e não vê) está em relação com algo. Não há uma só coisa que exista nesse mundo que não esteja ligada a algo. Nosso mundo todo é permeado e fundamentando em ecossistemas: milhares e milhares deles, interligados e perpassados uns nos outros.

E de repente pensei: «Eureca! Claro!» Claro que vivemos num mundo onde nada está sozinho e tudo está em relação com outras coisas. Esse mundo existe porque o Deus Trinitário, que tem relações em seu âmago, derramou-se e criou algo que expressa a si mesmo. Claro que esse mundo é feito de ecossistemas, porque isso reflete um Deus que é completamente relacional.

Tradução: Rafael Pescarolo de Carvalho

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Categorias: Reflexões
Tópicos: ecologia teologia
Sobre Ruth Valerio

Ruth é doutorada em pesquisa de simplicidade e consumismo. Ela desenvolve o pensamento teológico por trás de A Rocha Reino Unido e coordena nossa pequena equipe de palestrantes. Ruth é casada com Greg e eles vivem em Chichester com suas duas filhas. Você pode seguir o blog dela em ruthvalerio.net.

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