30 outubro 2017 | Dave Bookless | 0 comentários

O poder da China

Recentemente voltei de uma visita a Hong Kong, Beijing e Yanji (nordeste da China), onde estive fazendo palestras. Falando sobre sustentabilidade ambiental a estudantes e professores em três contextos tão diferentes me fez pensar de novo no lugar da China no mundo e seu significado. Meus pensamentos sobre isto são obviamente pessoais e subjetivos.

Trabalhadores instalando alguns dos 23.000 painéis solares fotoelétricos nos telhados do terminal de passageiros da estação ferroviária de Hongqiao, em Shanghai. © Jiri Rezac 2010 (CC BY-NC-SA 2.0)

Trabalhadores instalando alguns dos 23.000 painéis solares fotoelétricos nos telhados do terminal de passageiros da estação ferroviária de Hongqiao, em Shanghai. © Jiri Rezac 2010 (CC BY-NC-SA 2.0)

 

Primeiras impressões: a China está progredindo em diversos setores. A velocidade de crescimento e mudança é fenomenal. Voando para Beijing o nosso era um dentre três aviões que pousaram simultaneamente em pistas paralelas; nosso táxi atravessou o 6º anel-estrada, depois o 5º e assim por diante, à medida que nos dirigíamos ao centro. Ligações ferroviárias de grande de velocidade estão expandindo-se rapidamente e o sistema de metrô de Beijing é o mais eficiente, limpo, rápido e fácil-de-usar que eu já vi (e também é barato!).

Seja quando está se exercitando nos mares do Sul da China ou construindo estradas de ferro e fábricas na África e América do Sul, a China é a nova superpotência. No século XIX eram a Inglaterra, França e Alemanha, no século XX eram os E.U.A. e a Rússia; mas agora o mundo está despertando para o poder econômico global da China. O potencial para esse poder ser usado de formas que sejam positivas ou negativas para o meio ambiente é enorme e tais escolhas estão sendo feitas agora.

A velocidade da mudança econômica tirou centenas de milhões da pobreza, mas também teve um enorme custo social e ambiental. Fui informado que famílias são frequentemente separadas devido ao trabalho, fazendo anciões rurais sentirem-se negligenciados, tornando o sucesso uma pressão dominadora. O materialismo com base no consumo tornou-se rapidamente a ideologia silenciosa da China urbana. Os níveis de poluição nas cidades chineses são tóxicos e os efeitos da mudança climática e do desmatamento em eventos climáticos extremos como inundações, deslizamentos de terra e tempestades de pó são devastadores.

Enquanto estava na China, soube da retirada do Presidente Trump do acordo climático de Paris. A resposta da China foi inequívoca: um compromisso de trabalhar com a UE e outros em direção a um consenso global e o Acordo de Paris. A China passou por uma reviravolta notável em termos de meio ambiente, da forma que só uma economia de comando-e-controle pode fazer. Enquanto há dez anos ouvia-se semanalmente histórias sobre sobre novas centrais elétricas a carvão, agora, segundo Forbes “ O carvão está desaparecendo na China devido à poluição”, e o Financial Times avisa “os setores do alumínio e carvão serão abalados pelo esforço dos chineses em favor de um ar limpo”. Em 2016 a China acrescentou mais renováveis em um ano do que todo o fornecimento da Alemanha, totalizando 25% de toda a sua produção de energia. Ainda há muito mais a ser feito, sobretudo em termos de proteção à biodiversidade e combate ao comércio de espécies ameaçadas, mas também há histórias positivas e recentes em ambas essas áreas.

Nesse contexto, onde fica a igreja chinesa? As estimativas numéricas variam, porque muitos frequentam igrejas domésticas ao invés das igrejas oficiais: a Three-Self Patriotic Church (“Igreja dos Três-Auto”, isto é, auto-administração, auto-apoio e auto-propagação) e a Igreja Católica, porém estima-se que até 10% dos moradores na República Popular da China sejam agora cristãos. O governo tenta controlar a religião zelosamente, e recentemente procurou persuadir as igrejas domésticas igualmente a registrarem-se. Um dos resultados é que a fé é muitas vezes intensamente pessoal – a fim de evitar a política, e assim tem havido muito pouco ensino ou estudo em torno de uma abordagem bíblica para as questões ambientais, econômicas e de estilo de vida. Entretanto, encontrei cristãos em altas posições em universidades e instituições de pesquisa desejosos de fazer uma relação entre sua fé e seu trabalho.

Mais uma vez, o potencial da China é gigantesco. Imagine se os cristãos chineses tivessem uma visão de cuidado com a criação e da busca pela glória divina através de um futuro sustentável? Imagine se a visão de A Rocha fosse realmente plantada na China? Trinta anos atrás, parecia impossível que o cristianismo pudesse vingar na China – mas agora isto está acontecento. Não seria maravilhoso se os cristãos chineses se tornassem a próxima geração de líderes de A Rocha, pioneiros de iniciativas de conservação locais com base bíblica? Se você compartilha desta visão, una-se a mim em oração pela igreja na China.

O livro de Dave sobre a base bíblica para o cuidado com a criação, ‘Planetwise’, está disponível em chinês em: https://shop.campus.org.tw/ProductDetails.aspx?productID=000501163.

Tradução: Elisa Gusmão

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Categorias: Reflexões
Sobre Dave Bookless

Dave é o Diretor de Teologia de A Rocha Internacional, onde ele trabalha para integrar o cuidado da criação a nível internacional em organizaçoes cristãs, instituições teológicas e movimentos missionários. Ele já foi membro da diretoria internacional de A Rocha e é também o cofundador de A Rocha no Reino Unido junto com sua esposa, Anne. Ele é doutor em teologia bíblica e conservação da biodiversidade pela Universidade de Cambridge e já escreveu diversos livros, entre os quais Planetwise, disponível já em seis línguas. Nascido e criado na Índia, Dave vibra com comida indiana, cultura indiana e a igreja cristã indiana. Dave é também um anilhador de aves qualificado e gosta de aves, ilhas, corrida e montanhas.

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